Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro
Cultura Literária no Período Colonial
Professor: Manoel Ricardo de Lima
Aluna: Julia Pinto Gamboa
Gregório de Matos e a sátira
Uma das principais características da
poesia de Gregório de Matos é o uso da sátira. A sátira refere-se à criação
livre e irônica contra organizações e hábitos, ridicularizava os vícios e as
imperfeições. Gregório utilizava essa forma de expressão poética para criticar
a sociedade de seu tempo, a situação econômica da Bahia e não poupava nem a
aristocracia, nem o clero e nem as mulheres.
O governador da Bahia, Antonio Luis
da Câmara Coutinho foi, por exemplo, assim retratado:
“Nariz de embono,
com tal sacada,
que entra na escada
duas horas primeiro
que seu dono.”
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre.”
Gregório tinha preferência pelo
soneto e pelo uso dos decassílabos, ambos de influência clássica. Porém ele
desconstrói o aspecto clássico utilizando um português insólito com influências
do português de Portugal, do espanhol, aliado ao uso de termos léxicos
inusitados, provindos muitas vezes de línguas africanas e/ou indígenas.
“Um paiaiá de Monai, bonzo brama
Primaz da cafraria do Pegu,
quem sem ser do Pequim, por ser do
Acu,
quer ser filho do sol, nascendo cá.
(...)”
Gregório constitui na Bahia a expressão
mais forte da poesia Barroca da Colônia. Essa época foi marcada pela
contradição e tensão, pelo conflito e dualismo: mistura de religiosidade e
sensualismo, de misticismo e erotismo, de valores terrenos e carnais e de aspirações
espirituais. A sátira de Gregório não é revolucionária ou libertadora, mas
debochada e denunciadora dos maus costumes e valores pecaminosos.
Atua no sentido de manter a estrutura
social, política e religiosa, fato comum a todos os grandes autores do Barroco,
com elementos fortemente arraigados na psicologia comum da época, de fundamento
religioso-moral.
“Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina
mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar
excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que de
repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!”
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!”
O poema apresenta a visão
subjetiva de Gregório e o modo como ele dirige-se à Bahia como se estivesse se
dirigindo à alguém. Ele retrata o período em que viveu, a época da monocultura
da cana-de-açúcar, a época em que a máquina mercante, ou seja, os navios
estrangeiros levavam a maior fonte de riqueza brasileira, o açúcar. Gregório
pretende com esse poema denunciar as trocas que estão ocorrendo na Bahia (madrasta
dos nativos e madre dos estrangeiros, por exemplo), com o objetivo de fazer com
que o receptor (os baianos) compartilhem de sua ideologia nativista.
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