terça-feira, 12 de novembro de 2013


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Cultura Literária no Período Colonial

Professor: Manoel Ricardo de Lima

Aluna: Julia Pinto Gamboa
 

Gregório de Matos e a sátira 

Uma das principais características da poesia de Gregório de Matos é o uso da sátira. A sátira refere-se à criação livre e irônica contra organizações e hábitos, ridicularizava os vícios e as imperfeições. Gregório utilizava essa forma de expressão poética para criticar a sociedade de seu tempo, a situação econômica da Bahia e não poupava nem a aristocracia, nem o clero e nem as mulheres. 

O governador da Bahia, Antonio Luis da Câmara Coutinho foi, por exemplo, assim retratado:

“Nariz de embono,
com tal sacada,
que entra na escada
duas horas primeiro
que seu dono.”

 Além dessa crítica engraçada e maldosa, Gregório também criticava os vícios da sociedade, principalmente da sua maior personagem, a cidade da Bahia:

 “Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre.” 

Gregório tinha preferência pelo soneto e pelo uso dos decassílabos, ambos de influência clássica. Porém ele desconstrói o aspecto clássico utilizando um português insólito com influências do português de Portugal, do espanhol, aliado ao uso de termos léxicos inusitados, provindos muitas vezes de línguas africanas e/ou indígenas.  
 
“Um paiaiá de Monai, bonzo brama
Primaz da cafraria do Pegu,
quem sem ser do Pequim, por ser do Acu,
quer ser filho do sol, nascendo cá.
(...)”  

Gregório constitui na Bahia a expressão mais forte da poesia Barroca da Colônia. Essa época foi marcada pela contradição e tensão, pelo conflito e dualismo: mistura de religiosidade e sensualismo, de misticismo e erotismo, de valores terrenos e carnais e de aspirações espirituais. A sátira de Gregório não é revolucionária ou libertadora, mas debochada e denunciadora dos maus costumes e valores pecaminosos. 

Atua no sentido de manter a estrutura social, política e religiosa, fato comum a todos os grandes autores do Barroco, com elementos fortemente arraigados na psicologia comum da época, de fundamento religioso-moral.

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!”
 

O poema apresenta a visão subjetiva de Gregório e o modo como ele dirige-se à Bahia como se estivesse se dirigindo à alguém. Ele retrata o período em que viveu, a época da monocultura da cana-de-açúcar, a época em que a máquina mercante, ou seja, os navios estrangeiros levavam a maior fonte de riqueza brasileira, o açúcar. Gregório pretende com esse poema denunciar as trocas que estão ocorrendo na Bahia (madrasta dos nativos e madre dos estrangeiros, por exemplo), com o objetivo de fazer com que o receptor (os baianos) compartilhem de sua ideologia nativista.

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