terça-feira, 12 de novembro de 2013

UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Letras e Artes - Escola de Letras
Disciplina: Cultura Literária no Período Colonial
Professor: Manoel Ricardo de Lima
Aluno: Carlos Eduardo Ferreira de Oliveira




À Contrapelo.

 “Um notabilíssimo canalha”
Araripe Júnior (1848-1911)  Advogado, crítico literário e escritor brasileiro.

“Seus versos, notáveis pela mais engraçada originalidade, pela energia da expressão, pela riqueza da linguagem familiar, ou popular, revestem-se muitas vezes de um estilo nobre e sisudo”
Sacramento Blake (1827-1903)  Médico e escritor brasileiro. Poeta, biografo e historiador.

“A musa do Poeta se apurou e produziu as melhores sátiras, que o Brasil possui, e o lirismo crioulo, cuja originalidade, com pesar o digo, enaltece nossa literatura colonial – Gregório de Matos é toda a poesia do século XVII”
Araripe Júnior

“Gregório de Matos foi rico nos rasgos satíricos de que recheava todas as suas composições, e com tanta graça que era temido por esta arma, e muitos em seu tempo se diziam seus amigos, só por não incorrerem na sua apolínea indignação”

Cônego Januário da Cunha Barbosa (1780-1846) Orador sacro, historiador, jornalista, poeta, biógrafo e político de muita importância no Primeiro Reinado.

“Popular e corrente a sua linguagem, fácil e fluente a metrificação; pitorescas as imagens; felizes os símiles, chistosas as sátiras – quando não descambam em grosseiras alusões e intoleráveis obscenidades”

Cônego Fernando Pinheiro (1825-1876) Crítico literário pioneiro do romantismo no Brasil.

“Simplesmente um nervoso, quiçá um neurótico, um impulsivo, um espírito de contradição e de negação, um mal criado rabugento e malédico.”

José Veríssimo (1857 – 1916) Escritor, educador,  jornalista e estudioso da literatura brasileira, Imortal e principal idealizador da Academia Brasileira de Letras.

“Ao passo que o cultismo do século XVII produzia em toda parte uma poesia afetada e falsa, imitação bastarda da greco-romana, determinando uma literatura inteira de adulações aos reis e aos padres, Gregório era acérrimo inimigo, tanto de governadores e juízes déspotas como de bispos e cônegos aparvalhados [...] Gregório é o genuíno iniciador da nossa poesia lírica de intuição étnica. O seu brasileiro não era o caboclo, nem o negro, nem o português; era já o filho do país, capaz de ridicularizar as pretensões separatistas das três raças”


“Era um poeta nato e com uma necessidade irresistível de provar o seu gênio satírico, eis por que suas poesias têm todas um caráter mais ou menos acentuado de improvisação, de agudeza, de transbordamentos súbitos, às vezes de grande simplicidade, às vezes também muito espirituais”
Ferdinand Wolf (1796-1866) Romancista austríaco e autor de estudos literários no século XIX.

“Negligente e obsceno e tocador de viola”
Sílvio Júlio (1895 – 1984) Escritor e crítico literário.

“Deixou sua musa faceta vários retratos, ou, melhor, várias caricaturas excelentes desta casta de comparsas que vinham por aqui encher o pandulho magro e a bolsa vazia, e maldizer da terra e dos seus naturais”
Ronald de Carvalho (1893 – 1935) Poeta e político brasileiro.

“Madraço por índole, parasita vitalício, devorou cinicamente o pão alheio, que não lhe amargou qual amargou o plangitivo Dante”
Agripino Grieco (1888 – 1973)  Crítico literário e ensaísta brasileiro.

“Foi o primeiro a trazer um hausto de expressividade vital à linguagem poética no Brasil, em contraste com os demais versejadores da época colonial”
Eugênio Gomes (1897 – 1972) Escritor e crítico literário.

As notas postas acima foram extraídas das orelhas da mais recente edição da Crônica do Viver Baiano Seiscentista, a obra poética completa de Gregório de Matos, em sua 5ª edição pela Record em 2010.

Sobrepondo nomes, datas e os dados biográficos mínimos de seus autores é possível dimensionar a potência, a relevância e a influência da obra realizada por Gregório de Matos. A acuidade do espírito de Gregório refletida em sua obra, além de permitir considerações sobre a formação do poeta, constitui um documento, um traço de memória relevante sobre as tensões de nossa formação política, social e etnográfica.
Todas estas sobreposições relacionadas à situação política colonial transformam a obra de arte em monumento histórico.
“Nunca houve um monumento da cultura que não fosse um instrumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é tampouco, o processo de transmissão de cultura.” (Benjamin: 1999)
Abordando pelas margens as diversas sobreposições contidas nas notas acima seja por questões de ordem política, interesse artístico, mobilização de memórias ou por todas estas razões em conjunto, os efeitos desta potência seguem seu itinerário afetando o tempo por suas memórias ou pela projeção das tensões conformadas gerando uma ficção de futuro, incerto desde sempre.
Este tipo de abordagem permite comprovar a importância das questões de poder e de classe nas relações no Brasil colonial, na sua população, na sua política, na sua composição étnica, e nas tensões que tais relações promoveram.
Guardo como última amostra a nota do Licenciado Manuel Pereira Rabelo que, oportunamente, por sobreposição, nos apresenta a opinião do ilustre coetâneo Padre António Vieira:

“Veio a dizer o grande Padre Vieira que maior feito faziam as sátiras de Matos que as missões do Vieira.”
Licenciado Manuel Pereira Rabelo

Neste breve relato que aqui encerro, comprovamos ainda a força de sua índole nos desdobramentos destas tensões, seja em Haroldo de Campos, Caetano Veloso ou numa sala de aula na Urca onde o “Boca do Inferno” retorna da nossa ilusão de tempo para da cadeira dezesseis da Academia Brasileira de Letras, a contrapelo, recontar a nossa história.



Bibliografia:
AMADO, James. Gregório de Matos. Crônica do Viver Baiano Seiscentista – Obra Poética Completa -5ª edição pela Record em 2010.
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas. V.1 Tradução Sérgio Paulo Rouanet. Ed: Brasiliense, 1987.

Glossário:
Acérrimo - Acre, agudo, pontiagudo, penetrante, picante, ardente.
Pandulho - Bandulho (estômago).
Madraço - Que ou quem é dado à ociosidade ou não gosta de trabalhar. = MANDRIÃO
Plangitivo - Em que há pranto ou grande tristeza.
Hausto – Ação de haurir, Ação de aspirar. = ASPIRAÇÃO, SORVO.







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