sábado, 16 de novembro de 2013

                     Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

 Cultura Literária no Período Colonial – Professor: Manoel Ricardo de Lima

                                    Aluna: Carolina Vik        

Gregório de Matos e sua poesia erótica 


“Este se chama Monarca,
ou Semideus se nomeia,
cujo céu são esperanças,
cujo inferno são ausências.”
“E isto é Amor? é um corno.
Isto é Cupido? má peça.
Aconselho que o não comprem
ainda que lhe achem venda.”
“Um antídoto, que mata,
doce veneno, que enleia,
uma discrição, sem siso,
uma loucura discreta.”
“Uma prisão toda livre,
uma liberdade presa,
desvelo com mil descansos,
descanso com mil desvelos.”
“É este, o que chupa, e tira,
vida, saúde e fazenda,
e se hemos falar verdade
é hoje o Amor desta era.
O Amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.

Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa, é besta.”
 

  No poema “Definição do amor – Romance”, Gregório “dessacraliza” o amor, rebaixando, de certa forma, aquele amor clássico e idealizado ao plano corporal, mesclando sensualismo e lirismo. Utilizava versos curtos, visando uma aproximação com a linguagem popular de forma espontânea.

  Quando classificamos esta poesia como lírico-amorosa, relacionamos a ela uma construção em torno de contradições e pares de opostos, reforçando estas contradições por meio de figuras de linguagem(paradoxos, aliterações e assonâncias).
      Relacionando a poesia com o erotismo, o poeta utiliza uma linguagem mais direta e explícita, onde o amor carnal aparece como forma de libertação do corpo e do indivíduo. Se de um lado existe a obra satírica de gregório, onde ele critica sem nenhum pudor a sociedade da época, de outro há uma poesia amorosa e erótica.

    Não se tratava de uma estimulação dos sentidos e sim de um protesto contra o sistema moral, contra as concepções dominantes e dogmáticas de amor e de sexo e contra a própria sociedade da época.

   No seu momento mais vulgar, gregório se torna de certa forma cômico, tanto pela variedade de palavrões quanto pelas descrições desbocadas dos atos e órgãos sexuais em sua tentativa de descrever o amor. Não apresentando qualquer requinte voluptuoso, tratando o amor físico de forma é agressiva e galhofeira.

    Um fato interessante, é que enquanto a dama pintada por Camões inspira amor por sua beleza, de ordem ideal, moral, sem que esteja presente a sensualidade, a mulher na poesia barroca enfatiza os aspectos sensuais, fazendo com que os atributos tradicionais de beleza (branca, loira, olhos claros) vão sendo substituídos pelas mulatas e seus cabelos encaracolados. O que podemos relacionar com um trecho de “Casa grande & Senzala” onde Gilberto Freyre compartilha um ditado corrente no Brasil patriarcal a respeito das mulheres, onde os homens diziam que “Branca para casar, mulata para foder e negra para trabalhar”.



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