Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Escola de Letras
Cultura Literária no Período Colonial
Prof. Manoel Ricardo de Lima
Luana Mendes
Poesia Lírico Romântica de Gregório de Matos
A MESMA D. ÂNGELA
“Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
De verde pé, da rama fluorescente;
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.”
A poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos é fortemente marcada pelo contraste e o choque dos opostos, característica do Barroco. Essa visão dualista aparece na figura da mulher desejada, representando uma espécie de "anjo-demônio", ou seja, quando ela aparece como um ser angelical, ela também terá uma parte demoníaca, reforçando a ideia do pecado.
Ora a mulher aparece em seus poemas como ideal, espiritualizada e platônica, ora de maneira erótica. Dessa forma, sua poesia é construída em torno de contradições e pares de opostos. Além disso, a mulher é retratada como fonte de prazer e sofrimento.
Compara-se com os sonetos de Camões a atitude contemplativa e o amor elevado. Neste poema principalmente, a mulher é vista tanto de modo espiritualizado, quanto como objeto de desejo carnal. O tema central é o caráter contraditório dos sentimentos do poeta pela mulher, que é simultaneamente e objeto do desejo (flor), anjo (metáfora da pureza) e símbolo da elevação espiritual.A consciência da finitude do tempo leva à necessidade de prática imediata dos prazeres. As incertezas da vida levam o poeta a viver intensamente o presente.
A lírica-amorosa de Gregório abrange muitos temas, entre eles a mais pura idealização do amor, a exploração da psicologia amorosa e frequentemente um realismo irônico.
Em sua produção lírica, Gregório de Matos se mostra um poeta angustiado em relação à vida, à religião e ao amor. Na poesia lírico-amorosa, o poeta revela sua amada, uma mulher bela que é constantemente comparada aos elementos da natureza. Além disso, ao mesmo tempo que o amor desperta os desejos corporais, o poeta é dominado pela culpa e pela angústia do pecado.
O soneto é marcado pelo aspecto Cultista, que se desenvolve pelo jogo de palavras:
“Ângela” = “Angélica” = “Anjo”, “flor” = “florente”.
A contradição ente o amar e o querer se apresenta nos versos finais:
“Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.”
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