terça-feira, 12 de novembro de 2013

Problemáticas em Gregório de Mattos



Cultura Literária no Período Colonial Brasileiro
Aluno: Marco Antonio Notaroberto da Silva  -  Professor: Manoel de Lima
Escola de Letras – UNIRIO


Problemáticas em Gregório de Mattos

O grande problema de Gregório de Mattos começa em ser colono. Ele denuncia a articulação política imposta pelos colonizadores. O teor satírico dos versos, voltado ao agente colonizador, exprime por um lado a consciência da exploração dos colonos e por outro a defesa dos brasileiros em posição servil. Gregório se põe ao lado dos conterrâneos.
Este trecho de Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da república em todos os membros e inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia ilustra bem a necessidade que o poeta tinha de expor sua revolta com as corrupções de sua época:

Que falta nesta cidade?… Verdade.
Que mais por sua desonra?… Honra.
Falta mais que se lhe ponha?… Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?… Negócio.
Quem causa tal perdição?… Ambição.
E no meio desta loucura?… Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.

Muitas vezes é usada a locução “pátria minha”em seus poemas, o que revela a forte ligação do poeta a sua terra natal. É o primeiro a expressar aliança afetiva e efetiva à América Portuguesa além de suas riquezas naturais. Traz à tona a força contestadora da crítica nacional. Gregório começa a discutir a nação mesmo antes dela se conceber como tal.
Vemos em sua obra a tentativa de se preservar um traço minêmico que não seja o do colonizador. Ele quer revelar tudo àquilo que a história oficial não revelaria. É uma atitude humana, sua poesia tem participação política em todos os sentidos. Há uma revolta clara ao discurso do colonizador se sobrepondo ao do colonizado. A colônia é absurda na concepção de Gregório e ele usa a sua poesia como afrontamento entre a ideia de comércio e mercadoria.

À CIDADE DA BAHIA

Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente,
Pelas drogas inúteis, que abelhuda,
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente,
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fôra de algodão o teu capote.

No poema À cidade da Bahia deparamos com um sujeito-lírico que lamenta a situação da Bahia em seu tempo. Ele se identifica com a cidade, que nesse caso é personificada, pois ambos compartilham os mesmos sentimentos de angústia. Pode se lê-lo como uma denúncia acerca das relações de negócio que se davam entre os cidadãos baianos.
Ele pede a Deus para que puna a cidade fazendo com que ela vista uma simples roupa de algodão, o que era trajado pelas pessoas de baixa condição social e pelos escravos.

Gregório de Mattos foi de fato o primeiro grande escritor autenticamente brasileiro, ao incorporar à sua produção não só temas, mas também uma linguagem já “brasileira”, proveniente dos inúmeros coloquialismos, gírias, tupinismos, africanismos e expressões populares correntes na Bahia do século XVII.  Para o poeta o primeiro elemento que devia ser contaminado era a língua. Esta é uma das grandes problemáticas de Gregório de Mattos, a antropofagia da língua, que vê-se  claramente neste trecho do poema  Aos mesmos Caramurus:

Há cousa como ver um Paiaiá
Mui prezado de ser Caramuru,
Descendente de sangue de Tatu,
Cujo torpe idioma é cobé pá.
A linha feminina é carimá
Moqueca, pititinga caruru
Mingau de puba, e vinho de caju
Pisado num pilão de Piraguá.
A masculina é um Aricobé
Cuja filha Cobé um branco Paí
Dormiu no promontório de Passé.
O Branco era um marau, que veio aqui,
Ela era uma Índia de Maré
Cobé pá, Aricobé, Cobé Paí.

O Boca do Inferno, sob estes aspectos, se apresenta como nosso primeiro grande intérprete; o tradutor cômico-poético das mazelas particulares e sociais, da mestiçagem mística e erótica, dos desejos, tormentos e prazeres. Das nossas contradições em geral.

- Bibliografia:
1) Rev. de Letras – No. 22 – Vol. 1 / 2 – jan./dez. 2000
2) Poesia.br – Azougue Editorial

Nenhum comentário:

Postar um comentário