Cultura Literária no Período
Colonial Brasileiro
Aluno: Marco Antonio Notaroberto
da Silva - Professor: Manoel de Lima
Escola de Letras – UNIRIO
Problemáticas
em Gregório de Mattos
O grande problema de Gregório de
Mattos começa em ser colono. Ele denuncia a articulação política imposta pelos
colonizadores. O teor satírico dos versos, voltado ao agente colonizador,
exprime por um lado a consciência da exploração dos colonos e por outro a
defesa dos brasileiros em posição servil. Gregório se põe ao lado dos
conterrâneos.
Este trecho de Juízo anatômico dos achaques que padecia o
corpo da república em todos os membros e inteira definição do que em todos os
tempos é a Bahia ilustra bem a necessidade que o poeta tinha de expor sua
revolta com as corrupções de sua época:
Que falta
nesta cidade?… Verdade.
Que mais por sua desonra?… Honra.
Falta mais que se lhe ponha?… Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste socrócio?… Negócio.
Quem causa tal perdição?… Ambição.
E no meio desta loucura?… Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.
Que mais por sua desonra?… Honra.
Falta mais que se lhe ponha?… Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste socrócio?… Negócio.
Quem causa tal perdição?… Ambição.
E no meio desta loucura?… Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.
Muitas vezes é usada a locução
“pátria minha”em seus poemas, o que revela a forte ligação do poeta a sua terra
natal. É o primeiro a expressar aliança afetiva e efetiva à América Portuguesa
além de suas riquezas naturais. Traz à tona a força contestadora da crítica
nacional. Gregório começa a discutir a nação mesmo antes dela se conceber como
tal.
Vemos em sua obra a tentativa de
se preservar um traço minêmico que não seja o do colonizador. Ele quer revelar
tudo àquilo que a história oficial não revelaria. É uma atitude humana, sua
poesia tem participação política em todos os sentidos. Há uma revolta clara ao
discurso do colonizador se sobrepondo ao do colonizado. A colônia é absurda na
concepção de Gregório e ele usa a sua poesia como afrontamento entre a ideia de
comércio e mercadoria.
À CIDADE DA BAHIA
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente,
Pelas drogas inúteis, que abelhuda,
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente,
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fôra de
algodão o teu capote.
No poema À cidade da Bahia deparamos com um sujeito-lírico que lamenta a
situação da Bahia em seu tempo. Ele se identifica com a cidade, que nesse caso
é personificada, pois ambos compartilham os mesmos sentimentos de angústia. Pode
se lê-lo como uma denúncia acerca das relações de negócio que se davam entre os
cidadãos baianos.
Ele
pede a Deus para que puna a cidade fazendo com que ela vista uma simples roupa
de algodão, o que era trajado pelas pessoas de baixa condição social e pelos
escravos.
Gregório de Mattos foi de fato o
primeiro grande escritor autenticamente brasileiro, ao incorporar à sua
produção não só temas, mas também uma linguagem já “brasileira”, proveniente
dos inúmeros coloquialismos, gírias, tupinismos, africanismos e expressões
populares correntes na Bahia do século XVII. Para o poeta o primeiro elemento que devia ser
contaminado era a língua. Esta é uma das grandes problemáticas de Gregório de
Mattos, a antropofagia da língua, que vê-se
claramente neste trecho do poema Aos mesmos Caramurus:
Há cousa como ver um Paiaiá
Mui prezado de ser Caramuru,
Descendente de sangue de Tatu,
Cujo torpe idioma é cobé pá.
A linha feminina é carimá
Moqueca, pititinga caruru
Mingau de puba, e vinho de caju
Pisado num pilão de Piraguá.
A masculina é um Aricobé
Cuja filha Cobé um branco Paí
Dormiu no promontório de Passé.
O Branco era um marau, que veio aqui,
Ela era uma Índia de Maré
Cobé pá, Aricobé, Cobé Paí.
O Boca do Inferno, sob estes
aspectos, se apresenta como nosso primeiro grande intérprete; o tradutor
cômico-poético das mazelas particulares e sociais, da mestiçagem mística e
erótica, dos desejos, tormentos e prazeres. Das nossas contradições em geral.
- Bibliografia:
1) Rev. de Letras – No. 22 – Vol.
1 / 2 – jan./dez. 2000
2) Poesia.br – Azougue Editorial
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